PGR denuncia Eduardo Bolsonaro e Paulo Figueiredo ao STF por coação em processos judiciais

Procurador-geral Paulo Gonet acusa deputado e apresentador de tentativa de interferir em procedimentos legais através de ameaças a autoridades judiciárias
O procurador-geral da República, Paulo Gonet, apresentou nesta segunda-feira (22) denúncia ao Supremo Tribunal Federal (STF) contra o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e o apresentador Paulo Renato Figueiredo Filho por suposta prática de coação em processo judicial.
Segundo a Procuradoria-Geral da República (PGR), ambos teriam articulado ações destinadas a interferir em procedimentos legais para beneficiar o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e o próprio Figueiredo. Apesar de mais de 40 menções diretas ao ex-presidente na denúncia, ele não figura na lista dos denunciados neste momento.
Os denunciados teriam "cometido coação, crime previsto no Código Penal (artigo 344), que consiste em usar violência ou grave ameaça com o objetivo de favorecer interesses próprios ou de terceiros, direcionados a autoridades, partes ou qualquer pessoa envolvida em processos judiciais, policiais, administrativos ou arbitrais", conforme explicou o procurador-geral.
O material probatório apresentado inclui declarações públicas feitas pelos denunciados em redes sociais, além de informações extraídas de celulares apreendidos em medidas cautelares autorizadas pelo STF. A acusação baseia-se em evidências coletadas através de investigações autorizadas pela Suprema Corte.
A PGR afirma que as ameaças foram "inequívocas e consistentes", e que os denunciados tentaram submeter "os interesses da República e de toda a coletividade aos seus próprios desígnios pessoais e familiares".
Na denúncia, o PGR diz que Eduardo Bolsonaro e Paulo Figueiredo teriam "ameaçado autoridades judiciárias e de outros poderes, sugerindo que poderiam acionar sanções de autoridades norte-americanas para dificultar ou comprometer a vida civil das pessoas envolvidas, caso os processos não fossem concluídos conforme seus interesses, ou caso não fosse aprovada uma anistia que favorecesse Jair Bolsonaro no Congresso Nacional".
Além de responsabilizar os denunciados pelo crime de coação, o PGR pediu que eles sejam obrigados a reparar os danos causados por suas ações. Caso o STF aceite a denúncia, Eduardo Bolsonaro e Paulo Figueiredo se tornarão réus em ação penal.
O crime de coação previsto no artigo 344 do Código Penal pode resultar em pena de reclusão de um a quatro anos, além de multa. A gravidade da situação é amplificada pelo fato de envolver supostas tentativas de interferência em processos judiciais através de ameaças.
O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e o apresentador Paulo Figueiredo reagiram à denúncia apresentada pela PGR por coação nos Estados Unidos. Em nota conjunta, eles classificaram a acusação como "fajuta" e chamaram o procurador-geral, Paulo Gonet, de "lacaio" do ministro do STF Alexandre de Moraes.
Na declaração conjunta, Eduardo Bolsonaro e Paulo Figueiredo afirmam que as supostas tentativas de intimidação e acordos obscuros, citadas na denúncia, "não funcionam conosco". Eles reforçam que a ação da PGR é mais um movimento de apoio a Moraes, mas que o recado dado por eles é claro: "o único caminho sustentável para o Brasil é uma anistia ampla, geral e irrestrita, que colocará fim ao impasse político e permita a restauração da normalidade democrática e institucional".
A denúncia agora será analisada pelo STF, que decidirá se há elementos suficientes para o recebimento da ação penal. Caso seja aceita, os denunciados passarão à condição de réus e poderão apresentar suas defesas no decorrer do processo.
O caso representa mais um capítulo nas tensões entre diferentes instâncias do poder público brasileiro e levanta questões sobre os limites da liberdade de expressão quando direcionada a autoridades judiciárias e processos em andamento.
A repercussão do caso deverá se estender tanto no cenário político nacional quanto nas relações entre Brasil e Estados Unidos, especialmente considerando o contexto das sanções americanas aplicadas simultaneamente à apresentação da denúncia.